Estamos começando hoje a série "Plantão Redação". Eu, com a ajuda de Zucrineia Zuares Zuares, iremos analisar, dissecar, corrigir e revirar a sua redação. Envie o seu texto para vinicfig@hotmail.com (no corpo do e-mail, sem arquivos em anexo) e, dependendo da demanda, iremos publicar o resultado no Blog do Gramaticando, além de retornar para o seu e-mail. A ideia é criar um banco de redações corrigidas para ajudar os internautas a aprimorarem a sua escrita.
Vamos para a nossa primeira redação:
Titulo: Energia limpa
Desde a revolução industrial começamos a gerar energia com o poder dos combustiveis fósseis e minerais, a tecnologia vem avançando a passos largos entretanto nossas bases para obtenção de energia ainda são em sua maioria as mesmas desde aquela época.
Nossas principais matrizes energéticas são: o petróleo e o carvão mineral,o primeiro é combustível fóssil oriundo da decomposição de seres pré-historicos, muito eficiente mas sua utilização libera gases que contribuem com o efeito estufa e por ser de origem fóssil acabará.
O carvão como qualquer outro mineral é finito e sua utilização é extremamente danosa para agravar o efeito estufa, países com a China utilizam o como principal fonte de obtenção energética, seu baixo custo de retirada é o maior atrativo para sua utilização.
Devemos nos adiantar à necessidade de mudança na obtenção de energia antes de precisarmos faze-la por esgotamento das mesmas.Tem-se um horizonte rico de possibilidades nas chamadas energias renováveis -que tem uma fonte duradoura-, como a eólica, solar, bio-combustíveis, hidroelétrica e outras. Essas fontes ao contrário das supracitadas agridem menos o planeta e são, ao longo prazo, uma opção mais sustentável de suprimento da crescente necessidade energética do mundo.
Vamos para a
introdução:
Desde a revolução industrial
começamos a gerar energia com o poder dos combustiveis fósseis e minerais, a
tecnologia vem avançando a passos largos entretanto nossas bases para obtenção
de energia ainda são em sua maioria as mesmas desde aquela época.
A ideia da introdução está ótima, pois você começa
contextualizando e emitindo informações. Porém, temos alguns probleminhas.
Vejamos:
1)
“Passos largos” – essa expressão é uma expressão idiomática, ou seja: um
clichê. Você não pode usar esse tipo de expressão em sua redação. Um macete:
essas expressões geralmente não podem ser levadas “ao pé da letra”. A
tecnologia não tem “pé” para dar “passos largos”. O que você quis dizer é que
ela tem avançado rapidamente, por exemplo. Portanto, nada de clichês, ok? Outros
clichês: “foi a gota d’agua”, “abrir seu coração”, “correr atrás do prejuízo”,
etc...
2) Um
problema comum que encontro em redações é o período único. Você escrever a sua
introdução com um único período, ou seja: usou apenas um ponto final. Isso não pode
acontecer. Você precisa de, pelo menos, dois períodos, ok? Então poderíamos
escrever assim:
Desde a revolução industrial, o
mundo começou a gerar energia com o poder dos combustíveis fósseis e
minerais e a tecnologia avançou rapidamente. Entretanto, as bases
para obtenção de energia ainda são, em sua maioria, as mesmas desde aquela
época.
3) Observe que eu troquei “começamos” por “o mundo
começou”. Na redação, devemos ser impessoais. Isso significa que não podemos
usar o “eu” ou o “nós” (primeira pessoa do singular e do plural), blz?
4) Eu troquei “vem avançando” por “avançou”. Isso
se deve porque na redação ou até mesmo em texto literário nós devemos manter os
verbos no mesmo tempo e no mesmo modo. Não posso começar a redação com verbos
conjugados no pretérito, depois mudar para o presente e etc... Para concordar
com “o mundo começou”, devemos dizer “a tecnologia avançou”, mantendo o mesmo
tempo da conjugação. Isso vale para todos os verbos de seu texto.
5) Observe esse exemplo: “Joãozinho comeu batata
com limão na semana passada” (não me pergunte da onde eu tirei esse exemplo
porque eu também não sei). Veja que os termos da oração estão na ordem correta.
Se eu misturar essa ordem, eu preciso usar a vírgula para indicar essa mudança.
É tipo isso: “veja! Eu sou a vírgula! Estou indicando que alguém trocou de
lugar nessa oração”. Logo, a oração fica assim: “Na semana passada, Joãozinho
comeu batata com limão”.
Portanto, devemos usar a vírgula depois de “Desde a
Revolução Industrial”, ok? Afinal, a ordem correta é: “o mundo começou a gerar
energia ... desde a Revolução Industrial”. Como eu trouxe o termo para frente,
preciso colocar a vírgula para indicar esse movimento: “Desde a Revolução
Industrial, o mundo blá-blá-blá...”
6) Também devemos usar a vírgula após expressões do
tipo “entretanto”, “contudo”, porém”, etc... (são conjunções). Logo, devemos
usar a vírgula depois de “entretanto”. Com essas mudanças, a versão final de
nossa introdução é essa:
Desde a Revolução Industrial, o
mundo começou a gerar energia com o poder dos combustíveis fósseis e minerais e
a tecnologia avançou rapidamente. Entretanto, as bases para obtenção de energia
ainda são, em sua maioria, as mesmas desde aquela época.
Note que você repetiu a palavra
“energia”. As duas palavras estão muito perto e essa repetição seria observada
por seu avaliador. Você poderia dizer algo do tipo: “entretanto, as bases para
a obtenção energética” (ficou feio), ou “entretanto, as matrizes energéticas
são as mesmas desde aquela época” (ficou melhor).
Ah, antes que eu me esqueça:
Revolução Industrial, Revolução Francesa, Segunda Guerra, Queda da Bastilha...
letras maiúsculas, ok? São títulos de fatos históricos. É como se fosse o nome
de alguém.
Vamos para o segundo parágrafo:
Nossas principais matrizes
energéticas são: o petróleo e o carvão mineral,o primeiro é combustível fóssil
oriundo da decomposição de seres pré-historicos, muito eficiente mas sua
utilização libera gases que contribuem com o efeito estufa e por ser de origem
fóssil acabará.
Novamente, observo aqui que o parágrafo tem um único
período. Isso destrói o seu texto. O parágrafo de desenvolvimento deve ter,
pelo menos, três períodos (sendo que o primeiro, chamado de... bem esqueci o
nome, acho que é tópico frasal, é curto e expõe logo o seu argumento).
Logo,
poderíamos escrever assim:
As principais
matrizes energéticas são: o petróleo e o carvão mineral. O primeiro é
combustível fóssil oriundo da decomposição de seres pré-históricos, muito
eficiente. Porém, sua utilização libera gases que contribuem com o
efeito estufa. Além disso, por ser de origem fóssil acabará.
1) Veja que eu troquei o “nossas principais” para
“as principais” para manter a impessoalidade.
2) A melhor maneira de organizar os períodos num
parágrafo é através das conjunções. Nós chamamos isso de “coesão”.
3) O parágrafo de desenvolvimento é, em si, ume
pequena redação. Lembra que eu falei que ele deve ter, pelo menos, três
períodos? Isso ocorre porque, dentro do próprio parágrafo, devemos ter também
introdução, desenvolvimento e uma “conclusão” que serve para mudar o assunto
para o próximo parágrafo.
Analisando unicamente esse parágrafo, nós temos uma
introdução, que está sublinhada:
As
principais matrizes energéticas são: o petróleo e o carvão mineral. O
primeiro é combustível fóssil oriundo da decomposição de seres pré-históricos,
muito eficiente. Porém, sua utilização libera gases que contribuem com o efeito
estufa. Além disso, por ser de origem fóssil acabará.
Essa introdução se chama “tópico frasal” (agora
lembrei mesmo) e serve para indicar o que será desenvolvido, algo que você fez
muito bem. Agora, o desenvolvimento do parágrafo:
As principais matrizes energéticas são: o petróleo
e o carvão mineral. O primeiro é
combustível fóssil oriundo da decomposição de seres pré-históricos, muito
eficiente. Porém, sua utilização libera gases que contribuem com o efeito
estufa. Além disso, por ser de origem fóssil acabará.
Falta uma conclusão. O parágrafo de desenvolvimento
começou bem, mas... falta um sabor no final. Para concluir qualquer coisa, as
palavrinhas mágicas são as conjunções conclusivas: portanto, desse modo, assim,
etc... Uma sugestão é:
As principais matrizes energéticas
são: o petróleo e o carvão mineral. O primeiro é combustível fóssil oriundo da
decomposição de seres pré-históricos, muito eficiente. Porém, sua utilização
libera gases que contribuem com o efeito estufa. Além disso, por ser de origem
fóssil acabará. Portanto, ele precisa ser substituído por uma fonte de
energia renovável antes que se esgote.
Pronto. Quando eu digo “portanto”, eu estou
concluindo o meu raciocínio, indicando ao leitor: “meu filho, veja: estou
terminando de falar de petróleo e estou pronto para partir para o próximo
parágrafo”.
Em termos estruturais, o primeiro parágrafo de
desenvolvimento está pronto: possui três partes (introdução, desenvolvimento e
conclusão) e está mais coeso (não está escrito num período único).
Agora, vamos resolver os probleminhas de linguagem
mesmo. As mudanças feitas a partir de agora se adquire pela prática mesmo. Não
existem regras ou macetes. Dependem da visão de mundo e do quanto você conhece
do assunto. Ou melhor, existe um macete sim: escreva o mais completo possível,
sem deixar nenhuma pergunta no ar, demonstrando o máximo de conhecimento que
você tem.
O primeiro é combustível fóssil
oriundo da decomposição de seres pré-históricos, muito eficiente.
Esse “muito eficiente” deixa esse período
incompleto. Fica uma pergunta no ar: “muito eficiente para quê?”. Vamos
completar mais esse período, usando mais palavras e dando mais informações:
O primeiro se trata de um combustível
fóssil, elemento que se origina da decomposição de seres pré-históricos. Ele é
uma das matrizes energéticas mais eficientes do mundo, pois é possível criar
muitos produtos através de seu refino, a exemplo dos combustíveis
veiculares.
Continuando:
Porém, sua utilização libera gases
que contribuem com o efeito estufa. Além disso, por ser de origem fóssil
acabará.
A exemplo do item anterior, vamos complementá-lo,
dando mais informações e o desenvolvendo melhor:
Porém, o seu uso libera gases que
agravam o efeito estufa e, além disso, ele é considerado um recurso
não-renovável, o que significa que a longo prazo ele acabará.
Então, de um modo geral, o seu parágrafo fica
assim:
As
principais matrizes energéticas são: o petróleo e o carvão mineral. O primeiro
se trata de um combustível fóssil, elemento que se origina da decomposição de
seres pré-históricos. Ele é uma das matrizes energéticas mais eficientes do
mundo, pois é possível criar muitos produtos através de seu refino, a exemplo
dos combustíveis veiculares. Porém, o seu uso libera gases que agravam o efeito
estufa e, além disso, ele é classificado como um recurso não-renovável, o que
significa que a longo prazo ele acabará. Portanto, ele precisa ser substituído
por uma fonte de energia renovável antes que se esgote.
Veja que o desenvolvimento é uma
pequena redação, dotada de introdução, desenvolvimento e uma pequena conclusão.
Pense sempre assim para sempre escrever parágrafos de desenvolvimento completos
e coesos.
Vamos
para o outro parágrafo:
O carvão como qualquer outro mineral
é finito e sua utilização é extremamente danosa para agravar o efeito estufa,
países com a China utilizam o como principal fonte de obtenção energética, seu
baixo custo de retirada é o maior atrativo para sua utilização.
Novamente, nos deparamos com a mesma situação:
parágrafo único. Precisamos organizá-lo em introdução desenvolvimento e
conclusão. Porém, nesse caso, ocorre um fenômeno: por ser o terceiro parágrafo,
é preciso ter um “gancho” para relacionar com o segundo. Afinal, redação é um
corpo. Precisamos manter a cabeça, os braços e as pernas unidos. Com os
parágrafos ocorre a mesma coisa: precisamos costurá-los e uni-los sem mudar de
ideia bruscamente. Logo, vamos usar um gancho para o tópico frasal a fim de
relacionar esse parágrafo com o anterior:
Semelhante ao petróleo, o carvão,
como qualquer outro mineral, é finito e sua utilização é extremamente danosa
para agravar o efeito estufa.
Veja que ao dizer “semelhante ao petróleo” é um
gancho para relacionar esse parágrafo com o anterior. Sempre procure usar
ganchos, evitando, assim, quebrar a ideia e partir para a outra.
Outra coisa... Veja esse exemplo: “Joãozinho atirou
um gato pela janela” (mais uma vez, não me pergunte da onde saiu esse exemplo).
Vamos supor que eu queira dar mais uma informação a respeito de Joãozinho,
dizendo: “Joãozinho, que é um menino levado, atirou um gato pela janela”. Eu
enfiei “um menino levado” no meio de uma oração. É o que a gente chama de
“aposto”. Logo, a vírgula é usada para sinalizarmos esse aposto, que fica entre
vírgulas. Portanto, devemos usar as vírgulas desse modo: “Semelhante ao petróleo,
o carvão, como qualquer outro mineral, é finito e blá-blá-blá”. Veja que “como
qualquer outro mineral” é um aposto, é uma informação adicional e, portanto
deve aparecer entre vírgulas. O aposto, por ser adicional, não interfere no
sentido da oração, tanto que eu posso tirar ele: “Semelhante ao petróleo, o
carvão é finito”. É por isso que tem esse festival de vírgulas.
Bem, fizemos a introdução (tópico frasal) do
parágrafo. Agora, vamos ao desenvolvimento:
Semelhante
ao petróleo, o carvão, como qualquer outro mineral, é finito e sua utilização é
extremamente danosa para agravar o efeito estufa. Países com a China o
utilizam como principal fonte de obtenção energética e seu baixo custo de retirada é o maior atrativo para sua
utilização.
Veja que eu troquei “utilizam o “ por
“o utilizam”, e troquei a vírgula pelo “e”. São apenas detalhezinhos... Porém,
o principal aqui é o seguinte: a parte sublinhada corresponde ao
desenvolvimento do parágrafo. Falta finalizá-lo. Precisamos concluí-lo, porém,
antes vamos falar um pouco da adequação vocabular.
Tudo bem que o carvão é retirado da
natureza, mas dizer “baixo custo da retirada” não fica legal. O mais adequado
seria dizer “baixo custo de extração”. Eu também mudaria “utilização” por
“uso”, mas isso se deve ao meu estilo de escrita mesmo.
Bem, agora falta finalizar o parágrafo.
Poderíamos seguir a estratégia do parágrafo anterior, dizer algo do tipo:
Semelhante
ao petróleo, o carvão, como qualquer outro mineral, é finito e sua utilização é
extremamente danosa para agravar o efeito estufa. Países com a China o utilizam
como principal fonte de obtenção energética e seu baixo custo de extração é o maior atrativo para sua
utilização. Do mesmo modo do “ouro negro”, o carvão é uma fonte
não-renovável e precisa ser substituído por uma base energética sustentável.
Eu usei “ouro negro” para não repetir
petróleo. Não é um clichê, não é uma expressão coloquial ou informal. É um caso
isolado: é uma expressão que não pode ser levada ao pé da letra (assim como o
clichê), mas também não tem a carga coloquial. Por conta disso, usa-se aspas.
Vamos
para a conclusão:
Devemos nos adiantar à necessidade de
mudança na obtenção de energia antes de precisarmos faze-la por esgotamento das
mesmas. Tem-se um horizonte rico de possibilidades nas chamadas energias
renováveis -que tem uma fonte duradoura-, como a eólica, solar,
bio-combustíveis, hidroelétrica e outras. Essas fontes ao contrário das
supracitadas agridem menos o planeta e são, ao longo prazo, uma opção mais
sustentável de suprimento da crescente necessidade energética do mundo.
A ideia
contida em sua conclusão está bem expressa. Você concluiu dando uma alternativa
ao problema do uso de recursos não-renováveis, que é um tipo de conclusão propícia
ao tema. Porém, a
conclusão geralmente é um parágrafo mais curto e mais direto. Não podemos
desenvolver nada: apenas fechar o texto, retomando as ideias e usando alguma
outra estratégia, que nesse caso foi citar a solução para o problema (que é usar
fontes renováveis). Nesse paragrafo de conclusão você praticamente fez outro
parágrafo de desenvolvimento, explicando e argumento a respeito da necessidade
do uso de energia renovável.
Logo,
temos dois pontos a serem observados na conclusão:
1)
Retomar o argumento
2) Dar a
solução (estratégia que pode ser usada nessa redação)
Uma
sugestão seria:
1)
Diante dos problemas ambientais causadas pela atual matriz energética e também
de seu futuro esgotamento, 2) pode-se observar que é necessário um maior desenvolvimento
e uso das fontes renováveis. Optar pela energia renovável, como a eólica e a
solar, é um importante passo para a sustentabilidade do planeta.
Veja que
a conclusão deve ser simples e pontual. Não há espaço para argumentar nem para
exemplificar nada. Retoma o que foi falado e, nesse caso, por se tratar de um
problema, o autor pode indicar a solução para esse problema.
Maravilha, estou aprendendo bastante com o BG. O conteúdo é de ótima qualidade. Parabéns pelo excelente trabalho!
ResponderExcluirBueno !
ResponderExcluirParabéns, meu jovem.
ResponderExcluirJá sou sua fã.
Claudene
estou irritadíssima por ter conhecido tão tarde esse BG, pois já perdi tanto tempo com programas inúteis na net. o BG é maravilhoso. eu estudo todos os dias pelo menos 2 horas ao dia por aqui.
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