Mau hálito: verdades, mentiras, causas e como resolver ou curar

Sobre o mal com "l" e mau com "u"

O correto é escrever "mau hálito" (com "u" e sem hífen). Para tanto, basta se lembrar da regra: "mau" é contrário de "bom" e "mal" é contrário de "bem". Como o oposto é "bom hálito" (e não "bem hálito"), então devemos escrever "mau hálito" (com "u").

Então, basta também se lembrar da regra de semelhança do "l" com o "e" e do "u" com o "o" (algum gênio brilhante inventou essa regra, mas como eu não sem quem foi, eu não sei a quem atribuir a autoria). Com essa regra em mente, você não vai se confundir (esquecer quem é o contrário do outro).



Sobre o hífen

Não devemos usar o hífen porque... simplesmente porque não (não venha me dizer que "porque não" não é resposta). O hífen, em palavras iniciadas por "mal" e por "mau", não é muito bem definido. Afinal, escrevemos "mau hálito", "mau humor", "mau gosto" enquanto escrevemos outras palavras com hífen, como "maus-tratos", "mau-caráter", "mau-caratismo", entre outras. Portanto, apenas DECORE. 



Curiosidades sobre o mau hálito 

1) Combatendo o mau hálito 

Às vezes, o cheiro desagradável é causado pela falta de saliva na boca. Portanto, beba água e, obviamente, escova os dentes direito. Isso significa que você deve passar o fio dental ao menos uma vez ao dia e escovar a língua também (e jamais durma sem escovar os dentes, porque é durante a noite que as bactérias têm mais tempo de agirem e, assim, atazanarem a sua boca). 

2) Problemas no estômago causam mau hálito?

Resposta: NÃO. Isso é um mito. Problemas estomacais, como gastrite e refluxo, não causam mau hálito porque um músculo fecha a entrada do estômago (chamado de "cárdia"...). Se você não acredita em mim, então vá encher o saco do Drauzio Varella (http://drauziovarella.com.br/letras/h/mau-halito/)



3) Tem como eu saber se eu estou com mau hálito?

Resposta: não. Nós não conseguimos sentir o nosso próprio cheiro porque o nosso olfato se acostuma com os odores constantes. É por isso que não conseguimos, por exemplo, sentir direto o cheiro do nosso próprio perfume, enquanto que as pessoas que se aproximam de nós conseguem. Você pode tomar um banho de perfume e, em questão de pouco tempo, não sentirá mais o cheiro dele em seu corpo. Outra pessoa, porém, sentirá. 

Sendo assim, procure alguém de confiança para perguntar se você está com mau hálito e evite constrangimentos. 

4) Chiclete, bala ou antisséptico?

Mascar chicletes, chupar bala e encher a boca de antissépticos bucais resolvem o mau hálito por um tempo, mas logo depois ele volta, não sendo, portanto, a solução definitiva. As balas e os chicletes estimulam a produção de saliva, o que ajuda a combater o odor desagradável, mas não por muito tempo. E não existe nenhum antisséptico capaz de curar o mau hálito (tome cuidado com aqueles comerciais malucos de antissépticos bucais).

A melhor forma de curar o seu mau hálito é consultando um profissional, pois existem mais de 60 causas para o odor desagradável e apenas alguém da área pode identificar a causa e combater o problema. 

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Qual a diferença entre redundância e pleonasmo?



A redundância nada mais é do que fazer uma repetição desnecessária, dizendo a mesma coisa duas vezes. É um erro que deve ser evitado.

Exemplos: "conviver junto" (conviver já quer dizer "viver junto"), "sair pra fora" (além de "entrar pra dentro", "subir pra cima", "descer pra baixo"), "metades iguais" (sério que são iguais?!), "estrelas do céu" (não me diga! Pensei que eram as do mar!), "novidade inédita", "países do mundo" (ainda bem que são do mundo, né?), "encarar de frente" (realmente é melhor do que encarar de costas), "elo de ligação" e por aí vai.

Por outro lado, o pleonasmo é a repetição "correta" por conta da "licença poética", da literatura, coisa que escritores e poetas podem fazer. Como por exemplo, "e rir o meu riso". É claro que só podemos "rir um riso" e "chorar um pranto", mas essas palavras foram escritas por Vinícius de Morais com um intuito poético (Soneto da Fidelidade). O pleonasmo é uma repetição enfática, feita de propósito pelo autor.

Trovadorismo



Hoje em dia, está na moda a literatura fantástica, cheia de vampiros, de anjos e de zumbis. É o que o pessoal gosta de ler. Estamos vivendo a época do "Vampirismo", do "Harry Potterismo" e por aí vai. 

Porém, na Idade Média, os tempos eram outros. A galera vivia o período conhecido como "Trovadorismo". Claro que as coisas eram um pouco diferentes: não existia Facebook, nem Twitter, nem televisão, graças a Deus não havia Zorra Total e, além disso, as pessoas viviam no Feudalismo (imagine o tédio). Ou seja: ao invés de viverem num país governado por um presidente e dividido em estados e em cidades, o povo vivia em feudos (espécie de fazendas autônomas) chefiadas por um camarada chamado "suserano" (que era o dono do pedaço). O suserano era "o cara" e quem trabalhava para ele eram os "vassalos". Os vassalos cultivavam nas terras do suserano, entregando parte da produção ao chefe e sendo completamente fiéis aos seu senhor. Como troca, o suserano oferecia proteção militar (já que naquela época o pau comia mesmo). Era esse o contexto da época. 

Porém, na Idade Média, as coisas não eram tão liberais como são hoje. Hoje em dia, crianças rebolam o funk, a moda é ser "vida loka" e tudo anda muito mais liberal. Na Idade Média, a situação era outra: o cara simplesmente se sentia inferior à mulher, que era tida como uma espécie de deusa toda-poderosa e inatingível. A mulher era a suserana e o cara, um mero mortal, era o seu vassalo, o seu servo. 

Logo, ser romântico era o mesmo que ser "submisso", adorando a mulher inatingível e perfeita. Essa era a temática das "cantigas de amor": eram poesias cantadas e escritas por um cara que contemplava a mulher longe e distante, amargando um amor não correspondido. O cara era o vassalo e a mulher era a suserana. Era a chamada "vassalagem amorosa": o sentimento de submissão, a mulher inatingível, o amor não correspondido e, por isso, o rapaz vivia em constante estado de sofrimento por desejar a mulher sem conseguir nenhum resultado. 

Exemplo:

"A dona que eu am'e tenho por Senhor
amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.
A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.
Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.
A Deus, que me-a fizestes mais amar,
mostrade-me-a algo possa con ela falar,
se non dade-me-a morte."


Por favor, não entenda "submissão" do cara pela mulher do tipo "chicote" e "coleiras". A mulher não vai prender a coleira no rapaz e dizer: "vem, meu cachorrinho. Eu mando em você, MUA-HÁ-HÁ". Ser "submisso" significa "ser inferior". A mulher encontra-se num lugar superior, longe do homem. 

Mesmo que o trovador fosse esperto, criativo e romântico, ele JAMAIS conseguiria desenrolar com a mulher. Ela é uma deusa inatingível, não importa o tipo de "cantada" que ela receba. 

Hoje em dia, o romantismo anda meio em queda:



Na Idade Média, os homens viajavam bastante por conta das guerras. Eles viajavam de modo inesperado, deixando suas namoradas em casa, que esperavam ansiosamente por eles. E, claro, não existia Facebook, nem celular, nem telefone, nem e-mail. Imagine o cara chegar para a sua namorada e dizer: "querida, estou indo pro outro lado do mundo para guerrear. Não sei quando volto... Se eu voltar, claro".

Nesse contexto, surgiram as "cantigas de amigo", onde o eu-lírico (a pessoa que escreve a cantiga) é uma mulher ansiosa e preocupada com o seu "amigo" (namorado) que partiu, não sabendo quando ele vai voltar (ou se realmente vai voltar). O ambiente retratado é bem bucólico (no meio do mato), levando em conta a vida camponesa nas aldeias. Essas cantigas expressam a dor da mulher em virtude da partida seu amado (chamado de "amigo").

Obs: o eu-lírico é feminino, mas quem escreve a cantiga é um homem. As mulheres não escreviam porque eram consideradas analfabetas. Logo, o trovador era o homem que escrevia as cantigas de amigo se passando pela mulher, que agonizava pelo seu "amigo" (amado, namorado) que havia ido embora. 

As cantigas de amigo retratam a mulher preocupada, perguntando para suas amigas, para o céu, para o mar,  para os pássaros e para tudo ao seu redor onde estaria o seu bofe amado. Vejamos um exemplo:

Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?


Seria algo do tipo: "Ai meu Deus! Alguém viu o meu amor? Vocês viram ele, flores? Vocês viram ele, árvores? Você viu ele, mar?".

As "cantigas de amor" e as "cantigas de amigo" são classificadas como "cantigas líricas".

Por outro lado, existem as "cantigas satíricas", que são: as de "escárnio" e as de "maldizer". Traduzindo para os dias de hoje, as "cantigas satíricas" são as "cantigas troll", ou seja: o cara "trolla alguém" (sacaneia), chamando a mulher de gorda, feia, velha, etc... A diferença é que, na cantiga de escárnio isso acontece de modo indireto, mais sutil, sem dizer o nome da pessoa, usando duplo sentido, enquanto que na "cantiga de maldizer" o cara simplesmente debocha de alguém, expondo o seu nome, podendo usar palavrões e sendo mais agressivo.

Então vamos resumir o que vimos até então:

CANTIGAS LÍRICAS 

Cantiga de Amor: o homem é o vassalo e a mulher é a suserana perfeita, linda e maravilhosa, que não corresponde o amor e parece ser inatingível. O cara, claro, vive se amargando por conta desse amor não correspondido.

Cantiga de Amigo: a mulher fica amargando pelo "amigo" (amado) que partiu em viagem.

CANTIGAS SATÍRICAS 

Cantiga de Escárnio: o cara sacaneia alguém de modo indireto, usando duplo sentido e ironia, sendo sutil.

Cantiga de Maldizer: o cara sacaneia alguém de modo escrachado e debochado, sem usar duplo sentido, rebaixando as palavras aos palavrões e sendo agressivo.

O Trovadorismo representa as características literárias que estavam "na moda" na Idade Média. Era o que o pessoal curtia. Vale lembrar que as cantigas eram poemas cantados pelo trovador, geralmente reunidas em cancioneiros. Essas cantigas medievais portuguesas eram escritas na "medida velha" (cinco ou sete sílabas poéticas). Além disso, o idioma era o galego-português e, por isso, nem sempre é fácil compreender uma cantiga dessas.

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Redação 4: Usando o poder das citações




Este é o Gramaticando Redação de número 4. 

Nos artigos anteriores, nós falamos a respeito de duas ferramentas importantes na argumentação de qualquer texto: argumento de causa e de consequência e argumento por exemplificação

Hoje vamos falar a respeito da estratégia das citações. 

A citação nada mais é do que eu usar as palavras de outra pessoa. É uma estratégia interessante. Imagine levar o apoio de Jesus Cristo, Sócrates, presidentes da república, pensadores, filósofos e artistas consagrados para o seu texto? A citação faz mais ou menos isso.

Existem dois tipos de citações que você deve saber: a direta e a indireta.

A citação direta aparece exatamente do modo em que ela foi dita pela pessoa. Portanto, devemos usar as aspas, além de indicar o seu autor. Por exemplo:

As consequências dos conflitos gerados pelos atritos diplomáticos estão se tornando cada vez mais imprevisíveis, ainda mais com a alta tecnologia nuclear desenvolvida. Como por exemplo, pode-se citar a instabilidade diplomática da Coreia do Norte perante a Organização das Nações Unidas. Desse modo, fica mais evidente que Einstein estava correto ao dizer: "Não sei como será a terceira guerra mundial, mas sei como será a quarta: com pedras e paus". 

Caso você não se lembre exatamente de como a citação foi dita, você pode usar suas próprias palavras. Porém, você deve atribuir a autoria da referida citação.

Voltando ao exemplo:

Desse modo, fica mais evidente que Einstein estava correto ao dizer que não sabia como seria a terceira guerra mundial, mas sabia que a quarta se resumiria a pedras e a paus. 

Veja também que eu usei a argumentação por causa e consequência (os conflitos causam guerras, são causados pelos atritos diplomáticos e podem gerar consequências ainda mais imprevisíveis), além da argumentação por exemplos (atual crise da Coreia do Norte, que se voltou contra os EUA e continuam fazendo testes atômicos).

A citação é uma ferramenta incrivelmente ótima se for bem usada. Você pode trazer grandes nomes ao seu texto. Eu acabei de trazer Einstein a minha argumentação e sua simples e profunda citação tornou-a mais convincente. Afinal, é como eu dizer: "Vejam, gente! O que eu estou falando e defendendo é o que um dos maiores cientistas do mundo disse!" 

É por isso que esse argumento é também chamado de "citação de autoridade". Usamos um nome forte e com credibilidade para nos ajudar a defender o nosso ponto de vista.

Sendo assim, vamos atualizar o nosso roteiro para se escrever uma boa redação:

1 - ler o tema (será explicado mais adiante)
2 - se posicionar a respeito do tema
3 - Argumentar
3.1 - argumentação por causa e por consequência
3.2 - argumentação por exemplos
3.3 - argumentação por citações

Agora vamos falar a respeito do seu dever de casa.

No último GR, você precisou pesquisar a respeito de economia. Agora que você fez o seu dever de casa, você deve saber tudo sobre: bolsa de valores, inflação, deflação, superávit, déficit, etc...

Complemente a sua pesquisa lendo a respeito de PIB e de Banco Central.

Como o outro dever de casa era sobre política, você percebeu que o país não é controlado pelo presidente, mas sim pelo seu gabinete. O presidente é apenas o "astro", uma figura "pública". Por trás dele existem dezenas de ministérios, secretários (e puxa-sacos).

Inclua em seu dever de casa uma lida a respeito do Ministério da Fazenda e de seu atual ministro.

Você pode até estranhar, se perguntando: "poxa, isso vai mesmo ajudar em minha redação?". Porém, eu peço que confie em mim, porque eu tenho um objetivo claro e pontual com tudo isso. Um dever de casa não pode parecer tão importante. Porém, quando você juntar todos os deveres, entenderá o quanto você amadureceu, cresceu e o quanto desenvolveu o seu senso crítico.

Ir para o Gramaticando Redação 5

Récorde ou recorde?


Como devemos pronunciar: "récorde" ou "recórde"?

Bem, recorde é uma palavra paroxítona e, portanto, a sílaba tônica é o "cor".

A confusão é feita por causa de "record", do inglês, que pode ser pronunciado como "récord" (recorde).

Portanto, sempre que alguém diz "ele bateu um novo récorde", na verdade ele está dizendo "ele bateu um novo record", misturando português com inglês. O correto é pronunciar "recórdi".

Então você me pergunta: e a "TV Record"? Ninguém diz "TV Récordi", mas sim "TV Recór".

Bem, é que "record", em inglês, pode significar "registrar" ou "gravar". Com esse significado, a pronúncia muda para "recór" ao invés de "récordi".


Tráfego ou Tráfico?



Tráfego significa trânsito.
Por outro lado, tráfico significa comércio ilegal.


O tráfico de drogas é terrível.
O tráfego está intenso e repleto de motoristas distraídos



Pára-quedas, paraquedas, para-quedas, páraquedas? Como escrever?



Antes da Nova Ortografia, nós escrevíamos "pára-quedas". Agora, com a Nova Ortografia, a palavra perdeu o acento e o hífen, ficando "paraquedas".

O correto é "paraquedas" e a regra vale para as demais palavras relacionadas: "paraquedismo", "paraquedista", etc...

Porém, nos outros compostos com "para" o hífen permanece (mas o acento foi abolido). Exemplo: para-choque, para-brisa, para-raios.

O acento diferencial usado para distinguir o verbo "parar" da preposição "para", mas foi abolido pela Nova Ortografia.



Re-eleição ou reeleição?



Pela Nova Ortografia, as palavras que começam com o prefixo "re" seguido pela vogal "e" devem ser escritas sem hífen, além de dobrarem o "e". Portanto, devemos dizer "reeleição" ao invés de "re-eleição".

Outros exemplos são:  "reeducação",  "reembolso", "reencarnação", "reencontro", "reescrito", entre outros. 

João Xirolindo se reelegeu
A sua reeleição surpreendeu a todos.  


"Abaixo-assinado" ou "abaixo assinado"?



Pela nova ortografia, como devemos dizer? Abaixo-assinado (com hífen) ou abaixo assinado (sem hífen)?

Na verdade, ambas as expressões existem.

Ao dizer "abaixo-assinado" estamos nos referindo ao documento. Ao dizer "abaixo assinado" estamos nos referindo à pessoa que assinou (é o mesmo que dizer "assinado abaixo").

Exemplo:

João fez um abaixo-assinado contra as baratas. 
Pedro, que está abaixo assinado, é contra as baratas. 
José, Juvenal e Xingulino, que estão abaixo assinados, são contra as baratas. 



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