"Dá de fazer", "dá de escutar"

Um leitor do blog levantou uma excelente questão. Aqui está, na íntegra, a participação do leitor Silvio Teixeira:

Um amigo tem o costume local da cidade dele de falar "dá de fazer", "dá de escutar" e assim por diante. Batemos nele alegando que está errado sua forma de falar, mas ele nos questionou sob que regra gramatical isto estaria errado e não conseguimos responder mesmo não sendo totalmente leigos no assunto, mas nem de longe somos especialistas. Quem está correto? Se somos nós, qual regra se aplica que denota o erro da forma que ele usa?

Sílvio, realmente é errado dizer "dá de fazer". O problema é dizer o porquê, indicando a regra específica desse caso. Realmente, muita coisa da língua nós sabemos apenas por "conhecimento de mundo", observando como as pessoas falam ou lendo em algum lugar. Às vezes, nós admitimos que algo está errado, porém não sabemos o motivo. O caso do "dá de fazer" é um exemplo: sei que está errado, mas eu preciso de uma fonte segura para me dizer que o verbo "dar", nesse contexto, só exige a preposição "para". 

E garimpando a internet inteira, eu consegui encontrar a fonte.

A versão em língua portuguesa do site The Free Dictionary  esclarece a dúvida, pois apresenta, além dos significados, a regência do verbo "dar" em cada caso. Observe o item 9 do tópico "verbo intransitivo":

dar (dar
verbo transitivo
1. oferecer
2. dar um pontapé/um murro/ uma estalada -
3. dar /prazer/ medo - causar
dar problemas - causar problemas
dar fome/sede - causar
dar uma festa /um passeio - fazer
4. dar parabéns/cumprimentos/ pêsames - apresentar
5. produzir
6. dar um berro - gritar
7. dar as boas noites - dizer
8. passar

dar 
verbo intransitivo
1. resultar
2. dar com - ficar bem com
3. dar com - encontrar, descobrir
4. dar em - tornar-se
5. dar em - resultar
6. dar para - servir para
7. dar para - estar virado para
8. dar para - ser suficiente
9dar para - ser possível
10. dar por - aperceber-se
11. dar a - chegar
12. dar à luz - parir
13. dar certo - resultar
14. dar nas vistas - evidenciar-se
Copyright © 2013 K Dictionaries Ltd.

Portanto, quando o verbo "dar" é usado com o sentido de "é possível" ele só admitirá a preposição "para" em sua regência. Logo, o correto é "dá para fazer" e não "dá de fazer". 

Empecilho ou impecilho? Como se escreve?

Como se escreve: empecilho ou impecilho?

O correto é: empecilho. A palavra impecilho não existe. 

Empecilho significa obstáculo ou barreira. 



Ao invés de ou em vez de? Como se escreve?

AO INVÉS DE ou EM VEZ DE? Como escrever? 


A expressão "em vez de" tem o mesmo sentido de "no lugar de", ou seja: tem a característica da substituição. Um exemplo: "EM VEZ DE Toleneyson apresentar o trabalho, Timétio fez a apresentação" (Timétio fez a apresentação no lugar de Toleneyson). 

Já a expressão "ao invés" significa "ao contrário". Ao invés de acontecer uma coisa, aconteceu outra contrária. Exemplo: "AO INVÉS DE ficar quieto, Timétio fez a apresentação". 

Porém, também podemos usar o "em vez de" com o sentido de "ao invés" "ao contrário". Veja como fica: "EM VEZ DE ficar quieto, Timétio fez a apresentação". 

Conclusão: usamos "ao invés de" para significar "ao contrário de". Para as demais situações ( também incluindo "ao contrário de") usamos "em vez de". 

Afinal, a palavra "invés" significa "inverso", "avesso", "contrário". Por conta disso, ela jamais poderia significar outra coisa diferente de "ao contrário". A expressão "ao invés de" só pode significar "ao contrário de" porque "invés" significa "contrário". Pronto: esse é o jeito mais eficaz de decorar as diferenças. 

Quer um jeito melhor? Basta usar SEMPRE "em vez de" (porque é correto nos dois casos). Pronto! Be happy! "Em vez de" é o coringa! Esqueça o "ao invés de". 


Portantopodemos escrever tanto "Beniclécio ficou em casa em vez de sair" (porque "em vez" é o coringa e serve para tudo), como "Beniclécio ficou em casa ao invés de sair" (porque "ficar em casa" é o contrário e é o inverso de "sair de casa"").



Beneficente ou beneficiente? Como escreve?

Devemos escrever evento beneficente ou evento beneficiente?

Bem, a palavra "beneficiente" não existe. Logo, o correto é evento beneficente. Afinal, beneficente está associado à palavra beneficência, que significa caridade, ou seja: "fazer algo em benefício de alguém". 

Despercebido ou desapercebido?

Despercebido: significa "aquilo que não é percebido".

Desapercebido: significa "desprovido"

Exemplos:

Ninguém percebeu que o cachorro está camuflado. 
O cachorro passou despercebido por todos 




A escola está desprovida de recursos. 
A escola está desapercebida de materiais para os professores. 




Com certeza ou concerteza? Como se escreve?

Como se escreve? Com certeza ou concerteza?

O correto é "com certeza". A palavra "concerteza" não existe.

É muito fácil saber o porquê. Afinal, você come salada de alface com tomate ou contomate? Você toma banho com sabonete ou consabonete? Você estuda com livro ou conlivro? É claro que é "com tomate", "com sabonete" e "com livro". Portanto, é com certeza que eu digo isso.

Pronto! Está explicado a questão do nosso com certeza escrito separado

Com certeza o cachorro vai morder a cara de Jurandira 


Dúvidas?

De vez em quando ou de vez enquando? Qual é o certo?

O correto é "de vez em quando". Não existe "de vez enquando". Afinal, a palavra "enquando" não existe.

A expressão "de vez em quando" tem o mesmo sentido de "às vezes". Veja o exemplo:

De vez em quando o meu cachorro come cenoura 
(Às vezes o meu cachorro come cenoura)



Este ou esse?

Quando devemos usar este e esse? Veja agora:

1) Na fala, devemos usar “este”, “esta” ou “isto” para se referir a um objeto próximo ao falantePor outro lado, devemos usar “esse”, “essa” ou “isso” para se referir a um objeto próximo ao ouvinte

Abra esta porta 
(o falante está perto da porta)

Abra essa porta
(o ouvinte está perto da porta)

Não se esqueça de que essas palavras podem se combinar com as preposições, formando, por exemplo, "deste", "desse", "neste", "nessa"... 

Jurema, abra a porta deste fogão 
(o fogão está perto de mim)

Jurema, abra a porta desse fogão 
(o fogão está perto de Jurema)



2) No discurso escrito, devemos usar “este”, “esta” ou “isto” para se referir a uma ideia que não foi apresentada aindaPor outro lado, devemos usar “esse”, “essa” ou “isso” para se referir a uma ideia que já foi apresentada:

Juvêncio atirou seu cachorro no mar. Isso não se faz!
(o "isso" retoma a ideia anterior: atirar o cachorro no mar) 

Há coisas que não devem ser feitas, como esta: atirar um pobre cachorro no mar. 
(agora, a ideia vem depois de "esta"). 



Agora, veja esse exemplo: 


Neste ano, Joãozinho irá se vacinar 
(neste ano = ano atual) 

Joãozinho se vacinou em 1999. Nesse ano, ele estava no primário. 
(nesse ano = retoma o ano de 1999) 



Portanto, jamais se esqueça: na escrita, quando usamos o "ss" nos pronomes demonstrativos "esse", "essa", "isso", "dessa", "desse", "disso", "nesse," "nessa" e "nisso" nós estamos retomando algo que foi dito antes. 

Dúvidas? Faça o seu comentário!

Auto estima, autoestima ou auto-estima? O Hífen e a Nova Ortografia


Circum-navegação, circum navegação ou circunavegação - Nova Ortografia

Qual é o correto: Circum-navegação, circum navegação ou circunavegação?

Bem, de acordo com a Nova Ortografia, nós devemos escrever "circum-navegação". Isso ocorre porque o hífen sempre é usado em palavras compostas onde a segunda palavra começa com "m", "n" ou vogal e o prefixo é "circum" ou "pan". Como "navegação" começa com "n" e o prefixo é "circum", então devemos usar o hífen.

Com o prefixo "pan" ocorre a mesma coisa. Exemplo: pan-americano.

Existem mais algumas regras que você precisa saber sobre o hífen em palavras compostas. Veja aqui

Hífen em palavras compostas e a Nova Ortografia

De acordo com a Nova Ortografia, temos as seguintes regras quanto ao uso do hífen em palavras compostas:

1) Para o prefixo "vice", sempre usaremos hífen. Exemplo: vice-presidente.


2) Usaremos hífen quando a segunda palavra começar com "h", ou então quando o prefixo terminar com a mesma vogal que iniciar a segunda palavra. Caso contrário, escreveremos tudo junto. Exemplos:

Auto-hipnose (a segunda palavra começa com "h")
Micro-ondas (o prefixo termina com a mesma letra que começa a segunda palavra)
Autoescola (o prefixo não termina com a mesma letra que começa a segunda palavra)

Exemplos de prefixos: agro, ante, anti, arqui, auto, contra, extra, infra, intra, macro, mega, micro, maxi, mini, semi, sobre, supra, tele, ultra

Portanto, não esqueça: Dulcicleide precisa fazer autoescola (e não "auto-escola", ou "auto escola")




3) Para os prefixos "hiper", "inter" e "super", usaremos hífen se a segunda palavra começar com "h" ou com "r". Exemplos:

Inter-regional
Super-homem

4) Para o prefixo "sub", sempre usaremos hífen se a segunda palavra começar com "b", "r" ou com "h". Exemplos:

Sub-humano
Sub-reino 

Caso contrário, não usaremos vírgula. Exemplo:  subsecretário. 

5) Para os prefixos "circum" e "pan", usaremos hífen quando a segunda palavra começar com "h", "m", "n" ou vogais. Exemplo:

Pan-americano (a segunda palavra começa com vogal)
Circum-navegação (a segunda palavra começa com "n")
Pan-helênico (a segunda palavra começa com "h")

6) Sempre usaremos hífen com o prefixo "bem" (tirando algumas exceções).

Bem-criado, bem-vindo, bem-humorado, bem-educado, ...

As exceções são: "benfeito", "benquerer" e "benquerido", que agora são grafados sem hífen e também com "n". Além disso, as palavras com o prefixo "bem" que eram escritas sem hífen antes da Nova Ortografia continuam sendo escritas sem hífen (ex: benfeitor).

Cachorro bem-humorado 

Entretanto, para o prefixo "mal" e "mau" nós só vamos usar hífen caso a segunda palavra comece com "h" ou com vogal. Exemplo:

Mal-humorado (começa com "h", logo devemos usar hífen)
Mal-educado (começa com vogal, logo devemos usar hífen)
Malcriado (não começa com vogal nem com "h", logo não usamos hífen).

CUIDADO:

O "bem" e o "mau" (ou o "mal"), às vezes, podem não formar um termo de único sentido, associando-se ao verbo (sendo advérbio), por exemplo. Nesses casos, não devemos usar hífen. Veja:

Jucrildes é uma menina bem-educada.
Jucrildes foi bem educada pelos seus pais. 

Agora, você sabe qual é a diferença entre "mal" e "mau"? Tem certeza? Veja aqui uma regra infalível para nunca mais se confundir. 

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