Literatura: Classicismo

Depois do Trovadorismo veio o Classicismo, período literário do século XV. O que estava acontecendo no mundo no século XV? Exato, é isso mesmo: estava acontecendo o Renascimento. Muito bom!

Contexto Histórico

Esqueça o Trovadorismo, a Idade Média, a vassalagem amorosa, as cantigas e blá-blá-blá. Agora, no século XV, a moda é voltar à cultura clássica (da Grécia e da Roma antiga), fazendo-a renascer (daí vem o nome "Resnascimento"). A Igreja Católica vive a crise da Reforma Protestante. Agora, não é mais o Catolicismo o centro do mundo, Deus não é mais o centro do mundo, mas sim é o homem. O homem é o "cara" (literalmente), o homem é o centro do universo, o homem é o centro do mundo! Essa ideia se chama "antropocentrismo" e é uma característica marcante do Renascimento. A valorização do ser humano era tanta que o nosso corpo era adorado, era o símbolo da perfeição e era por isso que a galera gostava de ficar pelado nos quadros e nas esculturas sem nenhuma vergonha na cara:


E o ser humano é tão perfeito que o seu corpo é simétrico. Ele é superior aos outros seres, pois ele pensa (quer dizer, nem todos, mas deixa pra lá...). Ele é dotado de intelecto e de razão, ele tem a capacidade de pensar. Logo, essa é outra característica do período conhecida como "racionalismo". 



O homem, que era visto pela cultura renascentista como o "centro do mundo" realmente precisava dominar o mundo. Logo, seguindo esse pensamento, o homem partiu para conquistar os mares, inaugurando a época das grandes navegações (característica associada ao "universalismo", ampliando os horizontes). Então, um camarada muito esperto, vendo que a moda era "o homem no centro de tudo", "o homem desbravando os sete mares", "o homem e as grandes navegações", resolveu escrever um poema gigantesco sobre as grandes navegações (já que não tinha Facebook nem Blog do Gramaticando nem nada pra fazer). O título do poema é "Os Lusíadas", escrito por Luís Vaz de Camões e o negócio ficou tão bom, mas tão bom que entrou para a história da Literatura. 

Dizem as más línguas que ele sofreu um naufrágio ao voltar do Oriente e precisou optar por salvar o seu livro (que não foi nada fácil escrever) ou a sua mulher (chamada Dinamene... sim, é esse o nome mesmo). Advinha o que ele fez? Resposta: salvou o livro e, graças a isso, todo mundo precisa estudá-lo em Literatura até hoje! Isso não é legal?!

As más línguas dizem também que ele perdeu um olho numa batalha em 1540 contra os mouros. Engraçado dizer que essas mesmas más línguas dizem que ele perdeu o olho depois de espiar, pelo buraco da fechadura, mulheres trocando de roupa. 

E também tem essa versão aqui:



Os Lusíadas

"Os Lusíadas" era o "best-seller" da época. Era a obra que representava o Renascimento, pois falava a respeito do povo heroico português que foi desbravar o mar, que descobriu o novo continente (antropocentrismo e universalismo). O herói é o povo português (e não apenas os marinheiros). Os portugueses avançaram contra os mares desconhecidos, esmagaram as superstições dos monstros invisíveis que habitavam as águas e redesenharam o mundo (sim, pois por muito tempo o homem teve um medo fantasioso de cruzar os mares, além de, claro, jamais suspeitar que a Terra era redonda da silva, provavelmente pensando que cairia dela ao chegar até as bordas). 

A obra é uma "epopeia", ou seja, um poema "épico". Uma coisa "épica" é algo grandioso. Seria o "Senhor do Anéis", o "Gladiador", o "300" a "Lagoa Azul" de hoje. Afinal, o Renascimento queria trazer de volta a cultura grega de antigamente, que também valorizava o homem e a mitologia grega (características do livro"A Odisseia").

Sim, o Renascimento também queria fazer renascer a mitologia grega, que nada mais é do que trocentos deuses juntos brincando com o mundo (Apolo, Zeus, Artemis, Baco, etc...). Ou seja: além do antropocentrismo e do racionalismo, a volta dos seres mitológicos também era uma característica do Renascimento. Um exemplo é a pintura "O Nascimento de Vênus", a deusa do amor e da beleza. 


A característica da mitologia grega também aparece na obra de Camões. Vários deuses aparecem em "Os Lusíadas": Apolo, Baco, Neptuno, Júpiter, Vênus, entre outros. Há uma parte do poema onde Camões pede inspiração às "ninfas do rio Tejo" para poder escrever, outra evidência mitológica. 

Estrutura

Quando eu disse que o poema era "gigantesco" eu realmente não estava brincando. Afinal, ele tem 8816 versos organizados em 1120 estrofes e em 10 cantos! É coisa pra caramba! 

De modo geral, o "poemão" é dividido em cinco partes: 

1) Proposição: Camões mostra o assunto de seu poema, dizendo que vai escrever sobre uma viagem de Vasco da Gama às Índias (que é um pouco mais perto do que ir ao Acre ou à Japeri), além de exaltar a glória do povo português em sua expansão pelo mundo, espalhando a fé cristã (sim... a obra mistura mitologia com cristianismo). 

2) Invocação: Camões pede às Tágides (musas mitológicas que ficam no rio Tejo) inspiração para escrever. Realmente, tem que ter muita inspiração para escrever mais de 8000 linhas! Veja a mitologia da cultura grega renascendo nessa parte.

3) Dedicatória: Camões dedica o livro ao rei de Portugal, puxando o saco dele até arrancar, dedicando as linhas do canto 6 ao 17 só pra isso. Camões diz ao rei (dom Sebastião) que confia a continuação das glórias  e das conquistas do povo que estão sendo narradas no livr.

4) Narração: é auto-explicativo ;)

5) Epílogo: Finalmente, Camões termina a sua obra com o epílogo. Nessa parte, o poeta fica triste ao observar a realidade, não vendo mais as glórias e as conquistas no futuro de seu povo.

Só um detalhe: são mais de 8000 versos com rimas. Existem pessoas que literalmente suam para conseguir uma maldita rima, enquanto que Camões, em pleno século XV, fez mais de 8000 rimas! Realmente, as musas inspiraram bastante ele... As rimas são do tipo BABACA ABABABCC. Se você tem um raciocínio lento que nem o meu, vamos com calma: o primeiro verso rima com o terceiro e com o quinto. O segundo rima com o quarto e com o... deixe eu contar... ah sim, o segundo rima com o quarto e com o sexto. E o terceiro rima com o sétimo e com o oitavo. Essa técnica é chamada de "oitava rima".

Além das rimas, Camões cuidou da métrica, usando versos decassílabos (dez sílabas poéticas) no poema todo. "Sílaba" é diferente de "sílaba poética", que depende diretamente do som da leitura. Vejamos um exemplo: "é preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã" (Renato Russo).

Separando em sílabas "normais", nós encontramos:

É/PRE/CI/SO/A/MAR/AS/PES/SO/AS/CO/MO/SE/NÃO/HOU/VES/SE/A/MA/NHÃ

Já em "sílabas poéticas" as coisas mudam: a última sílaba da estrofe é a sílaba tônica da palavra e, além disso, alguns tipos de vogais se juntam numa mesma sílaba poética mesmo sendo de palavras diferentes (dependendo da tonicidade delas).

Separando em sílabas poéticas:

É/PRE/CI/SO A/MA/R AS/PE/SSO/AS/CO/MO/SE/NÃO/HOU/VE/SSE A/MA/NHÃ

Esse verso tem 18 sílabas poéticas. Veja que precisamos ter mais atenção para separar as sílabas poéticas, observando os sons. Camões escreveu todos os seus versos com dez sílabas poéticas (decassílabos). Agora, você deve entender o motivo de ele ser simplesmente o "cara" da Literatura Portuguesa.




De Endi

Tags: resumo do classicismo, características do classicismo, literatura classicismo, renascimento classicismo

6 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkk, a tua didática é a melhor que eu já vi, difícil de esquecer o que foi aprendido.
    Blogão gramaticando, obrigado pelo blog, está cada dia melhor.

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    1. Muito obrigado pelo apoio de um comentário motivacional, Walter!

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  2. Cara... de boa... isso aqui é a chave motivacional para alunos desmotivados!
    Parabéns! Minha página inicial...
    E vou rever meus conceitos!

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    1. Obrigado professor e obrigado Dani Cristina. Eu fico lisonjeado com os comentários de vocês. Um abraço!

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  3. Nossa adorei demais seu blog e suas explicações são muito boas. Até então eu não estava entendendo nada da matéria, muito obrigada pela ajuda.

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