Temos, no blog, um roteiro de estudos sobre Fonologia (veja aqui), no qual explicamos os conceitos de fonema, dígrafo, semivogal, ditongo, tritongo, hiato etc.
Porém, você já deve ter ouvido falar em Fonética e talvez tenha ficado em dúvida se Fonética e Fonologia são ou não são a mesma coisa. Vamos, então, aos esclarecimentos:
Qual é a diferença?
A Fonologia estuda os sons da língua buscando criar um sistema geral de representação sonora, sem levar em conta a produção concreta do som por cada falante, já que esse som varia de pessoa para pessoa. Portanto, na Fonologia, não interessa se uma palavra é pronunciada por um carioca, paulista, baiano ou gaúcho, pois ela terá a mesma representação sonora (por meio dos fonemas).
Por outro lado, na Fonética, a representação sonora de cada palavra vai depender da forma com que ela será dita por cada pessoa, considerando seus sotaques e outras particularidades dos sons da fala. Logo, a Fonética se ocupa da produção concreta dos sons, de suas variações pelos falantes (alofones) e vai estudar, com profundidade, o aparelho fonador, a produção da fala humana, suas características articulatórias e propriedades físicas. É na Fonética que você vai estudar, em detalhes, como o som é produzido desde a passagem de ar vinda dos pulmões até a articulação dentro da boca (se a língua toca ou não o dente, se os lábios se tocam ou não, se o som se "arrasta" na garganta etc).
Se um bêbado falar "paralelepípedo", a Fonética vai fazer a representação sonora da palavra exatamente da maneira como ela for pronunciada.
[PARA...BA...LE..LEBEBI...BEBIBEDO]
Enquanto isso, a Fonologia vai sistematizar a representação sonora da língua por meio dos fonemas, buscando uma forma padrão para representar os sons da palavra "paralelepípedo".
O que diz a NGB?
A Nomenclatura Gramatical Brasileira não faz a distinção entre "Fonologia" e "Fonética", considerando todo esse conteúdo somente como Fonética, dividindo-a em "descritiva", "histórica" e "sintática". Contudo, a distinção entre Fonética e Fonologia é majoritária entre os gramáticos.
O que dizem as gramáticas?
"Fonologia não se opõe à fonética: a primeira estuda o número de oposições utilizadas e suas relações mútuas, enquanto a fonética experimental determina a natureza física e fisiológica das distinções observadas" (MALMBERG,1962, apud BECHARA, 2009, p.58).
"A disciplina que estuda minuciosamente os sons da fala, as múltiplas realizações dos fonemas, chama-se fonética. A parte da gramática que estuda o comportamento dos fonemas numa língua denomina-se fonologia, fonemática ou fonêmica". (CUNHA, 2013, p.41)
"A Fonética estuda como esses fonemas são produzidos sob o aspecto fisiológico, ocupando-se da maneira como os sons da fala são articulados no aparelho fonador (...) Já a Fonologia caracteriza-se pelo estudo dos fonemas que, isolados ou agrupados, formam as palavras e permitem a comunicação entre os falantes de uma mesma língua" (BUENO, 2014, p.16)
"Fonologia e Fonética não se confundem, porque esta estuda os sons da fala, enquanto aquela estuda os sons da língua" (SACCONI, 2020, p.19)
Já Napoleão Mendes de Almeida segue rigorosamente a NGB, sem fazer a distinção entre Fonologia e Fonética.
"21 - Fonética (do gr. phoné = som) é a parte da gramática que estuda os vários sons ou fonemas linguísticos" (ALMEIDA, 2009, p.20)
Um pouco de história
As origens da distinção entre Fonética e Fonologia remontam ao ano de 1928, quando linguistas do Círculo Linguístico de Praga apresentaram, no I Congresso Internacional de Linguistas, as características distintivas dessas duas disciplinas. Foi nesse contexto que se desenvolveu a Fonologia moderna. Cabe, aqui, fazer uma menção aos trabalhos de Trubetzkoy:
"Em sua principal obra, embora inacabada, Princípios de Fonologia (1939), o linguista russo Nicolai Trubetzkoy (1890-1938) chamou Fonética à ciência dos sons da fala, sendo seus métodos de trabalho semelhantes aos das ciências naturais, uma vez que trabalha com fenômenos físicos concretos. À ciência dos sons da língua propôs o nome de Fonologia, sendo seus métodos puramente linguísticos, psicológicos ou sociológicos" (HAUY, 2014, p.77)
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