Fonologia (Aula 1): fonema, dígrafo e dífono

Olá pessoal, tudo bom com vocês? 

A partir de agora, nós vamos estudar o conteúdo de Fonologia, a parte da gramática que trata a respeito do sistema sonoro da língua. O nosso objetivo de hoje será entender bem os conceitos de fonema, dígrafo e dífono.

Vamos lá!


FONEMA


As palavras são formadas por letras e cada letra indica um som, certo? Na palavra CASA, por exemplo, a letra "C" tem som de "K", a letra "S" tem som de "Z" e a letra "A" tem som do próprio "A", não é verdade? 

Pois bem: cada som de cada letra é chamado de fonema. Portanto, a palavra CASA tem 4 letras (C, A, S, A) e 4 fonemas (/K/, /A/, /Z/, /A/). Simples assim!

Confira os outros exemplos:

CANETA
6 letras: C, A, N, E, T, A
6 fonemas: /K/, /A/, /N/, /E/, /T/, /A/

ABACATE
7 letras: A, B, A, C, A, T, E
7 fonemas: /A/, /B/, /A/, /K/, /A/, /T/, /E/

Observação 1: representamos os fonemas entre barras (/ /).
Observação 2: não vamos levar em conta os diferentes sotaques e variações linguísticas. Alguém pode dizer LEITE, outra pessoa pode dizer LEITI. Essas questões de produção e articulação do som são estudadas pela Fonética (e não pela Fonologia). O que nos importa aqui é entender que tanto "LEITE" quanto "LEITI" se referem à mesma palavra, sem mudança de significado, continuando tendo 5 letras e 5 fonemas (sons).


TIPOS DE FONEMAS 

Os fonemas (sons da língua) podem ser de três tipos: vogais, semivogais e consoantes

As vogais são fonemas produzidos pela passagem de ar que saiu livremente pela boca, sem nenhum tipo de obstrução. Por outro lado, as consoantes são fonemas produzidos pela passagem de ar que NÃO saiu livremente pela boca e teve alguma obstrução no meio do caminho, seja na língua, nos dentes etc. Para produzir o som da consoante "P", você precisa usar os lábios (som bilabial); para produzir o som do "F", é preciso fazer o ar passar por entre os dentes superiores encostados no lábio inferior (som labiodental); para produzir o som do "D", você precisa colocar a língua entre os dentes (linguodental) e por aí vai. 

Em relação às semivogais, elas serão estudadas em detalhes nos próximos capítulo. Não se preocupe com elas agora. 


LETRA e FONEMA: definições

Os fonemas (vogais, semivogais e consoantes) são representados pelas letras do alfabeto. Portanto, a letra é a representação gráfica de um fonema. Os sons vocálicos, por exemplo, são representadas pelas letras "A","E", "I", "O" e "U", que também são chamadas de vogais. 

Observação: o fonema "I" também pode ser representado pela letra "Y". Na palavra HOBBY, a letra "Y" representa o fonema "I". O mesmo ocorre com o "Y" em WALDECYR.

Nosso alfabeto é composto por 26 letras que vão representar os fonemas da língua (vogais, semivogais e consoantes): A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, U, V, W, X, Y, Z. 

Observação: a letra "H" faz parte do nosso alfabeto, mas ela não representa nenhum som (não tem fonema). Ela existe em nossa língua e é escrita nas palavras por questões etimológicas. Por exemplo: a palavra "hidrogênio" preserva o "h" porque veio do grego "hýphaimos"; a palavra "história" é escrita com "h" porque veio do latim "historiālis". Em outras línguas, como no inglês, a letra "h" tem som de "r". 

LETRA e FONEMA: características

Nós não escrevemos as palavras da língua exatamente da mesma forma como falamos. Portanto, uma letra pode ter diferentes sons. Na palavra CEDO, por exemplo, a letra "C" não tem som de "K", mas sim de "S". Na palavra HOTEL, a letra "H" não tem som de nada. Nas palavras XAROPE e EXAME, a letra X tem diferentes sons (fonemas). E na palavra TÁXI,  a letra X tem dois fonemas, sendo pronunciado como "KS" (TÁKSI). E na palavra CHAPÉU, as letras CH são pronunciadas com som de "X", ou seja:  duas letras podem ter apenas um fonema (um som).

Portanto, em nossa língua, tudo pode acontecer: letra com dois sons, duas letras com um som, letra sem som e por aí vai. Isso acontece porque o nosso sistema de escrita não segue apenas o critério fonético e leva em conta também o critério etimológico (as letras que eram usadas nas palavras de origem). 

LETRA SEM SOM


 HOJE o meu gato tirou uma selfie com os colegas dele.





A palavra HOJE tem quatro letras (H, O, J, E), mas a letra "H" não tem som, ou seja: na hora da fala, nós falamos "OJE". Mesmo sem som, essa letra continua sendo usada na escrita de várias palavras por questões etimológicas. 

Portanto, a palavra HOJE tem quatro letras ("HOJE") e três fonemas ("OJE"), já que a letra "H", quando usada no início de uma palavra, não tem som (não tem fonema).


DUAS LETRAS COM UM SOM (DÍGRAFO)


QUERO vender o meu carro. 





A palavra QUERO tem cinco letras (Q, U, E, R, O), sendo que as letras "Q" e "U" são pronunciadas juntas, como se fossem uma única letra: "K" ("KERO"). Portanto, temos, aqui, um dígrafo: duas letras com um único som. 

Veja outro exemplo:


Eu perdi a CHAVE do CARRO.

A palavra CHAVE tem 5 letras (C, H, A, V, E), sendo que as letras "C" e "H" são pronunciadas juntas, tendo som da letra "x" ("XAVE"). Portanto, "CH" é um dígrafo. E na palavra CARRO, as letras RR também são pronunciadas com um único som. Portanto, "RR" também é dígrafo. 

Existem dois tipos de dígrafos: consonantais e vocálicos

DÍGRAFO CONSONANTAL


Os dígrafos consonantais são os seguintes: 

 SS, RR, CH, LH, NH, SC, SÇ, XC, XS 

além de QU e GU quando "U" não for pronunciado. 

Exemplos:

Eu vou ASSAR a carne 
Vou usar o ALHO.
Eu vou CORRER na CHUVA.
Eu QUERO DESCER as escadas. 

Observe que "QU" e "GU" serão dígrafos quando o "U" não for pronunciado. Exemplo:

FOGUETE QUASE voou.





Na palavra QUASE, nós pronunciamos o "U". Afinal, nós não falamos "KASE", mas sim "KUASE" (pronunciando o U). Portanto, nesse caso, QU não é um dígrafo, pois temos duas letras (QU) com dois sons. 

Por outro lado, na palavra FOGUETE, nós não pronunciamos o som do "U". Nesse caso, trata-se de dígrafo, pois as  letras "GU" têm somente um fonema, um som. Trata-se de duas letras (duas grafias) com um som (um fonema). É por isso que chamamos de dígrafo (= duas grafias).

Confira os exemplos abaixo:

ASSAR: 
5 letras e 4 fonemas (A / SSA / R), com dígrafo SS


CORRER: 
6 letras e 5 fonemas (C / O / RRE / R), com dígrafo RR

CHUVA: 
5 letras e 4 fonemas (CH / U / V / A), com dígrafo CH

DESCER
6 letras e 5 fonemas (D / E / SC / E / R), com dígrafo SC

QUERO: 
5 letras e 4 fonemas (QU / E / R / O), com dígrafo QU

QUASE
5 letras e 5 fonemas (Q / U / A / S / E), sem dígrafo 

FOGUETE
7 letras e 6 fonemas (F / O / GU / E / T / E), com dígrafo GU

ObservaçãoA letra que não é pronunciada nos dígrafos é chamada de letra diacrítica

DÍGRAFO VOCÁLICO (NASALIZAÇÃO)

Quando as letras "M" e "N" aparecem depois de vogais, elas podem nasalizar essas vogais, formando apenas um som. Temos, então, um dígrafo (duas letras formando um fonema). Como se trata de nasalização de vogais, esse dígrafo é chamado de dígrafo vocálico.
 
Veja o exemplo: 


Perdi a TAMPA da caneta.

A palavra TAMPA tem cinco letras (T, A, M, P, A), mas a letra "M" aparece logo depois de uma vogal e nasaliza essa vogal. Ou seja: a gente fala "TÃPA" (com "A" nasalizado). Portanto, trata-se de uma palavra com 5 letras e 4 fonemas, já que o "M" e o "A" se misturam,, formando um único fonema.  

Sendo assim, são dígrafos vocálicos

 AM, AN, EM, EN, IM, IN, OM, ON, UM, UN 

Cada um desses pares é pronunciado com um único som (um único fonema), nasalizando a vogal, como se o "M" funcionasse como um til (~).

Outros exemplos:

PENTE 
tem 5 letras (P, E, N, T, E) e 4 fonemas (PTE), com "E" nasalizado pelo som de "N". Portanto, tem dígrafo vocálico "EN"

TINTA 
tem 5 letras (T, I, N, T, A) e 4 fonemas (TĨTA), com "I" nasalizado pelo som de "N". Portanto, tem dígrafo vocálico "IN".
 
ATENÇÃO (1)
 
Já vimos que, em TAMPA, temos um dígrafo vocálico, pois "AM" é pronunciado como "Ã" (duas letras, porém um som).

Por outro lado, na palavra ESTAMOS, por exemplo, não há ocorrência do dígrafo vocálico, pois logo depois de "M" temos a vogal "O", formando a sílaba "MOS". Ou seja: tanto a letra "A" quanto a letra "M" são pronunciadas. Afinal, nós não falamos ESTÃOS, mas sim ESTAMOS (pronunciando a letra A e a letra M também). Logo, não há dígrafo nesse caso.  

ATENÇÃO (2)
 
Na palavra TEMPERATURA, temos o dígrafo "EM", pois o "M" nasaliza a vogal "E", de forma que pronunciamos a palavra da seguinte forma: "TẼPERATURA". Ou seja: na sílaba "TEM", temos dois fonemas: "TẼ".
 
Porém, tenha cuidado: quando "EM" aparece no final de uma palavra, como em CRESCEM, também temos a nasalização da vogal "E", mas como "EM" está no final da palavra, ele é pronunciado como "ẼY". Ou seja: é pronunciado com som de "i" no final (que na realidade é uma semivogal, representada pela letra "Y"). Afinal, se você falar essa palavra em voz alta, no final vai perceber que a gente diz algo do tipo "CEIM".
 
Logo, na palavra CRESCEM, temos 7 letras e 6 fonemas (KRECẼY). Outro caso é a palavra TAMBÉM ("TÃBẼY"), onde "EM", no final da palavra, é pronunciado como "ẼY" (duas letras, dois fonemas).
 

UMA LETRA COM DOIS SONS (DÍFONO)

Já vimos que o dígrafo ocorre quando duas letras são pronunciadas como se fossem uma só. Porém, é possível que aconteça o contrário: é possível que uma única letra tenha dois sons. Veja:

Eu vou de TÁXI.




A palavra TÁXI  tem 4 letras, mas a gente pronuncia TÁKSI, ou seja: a letra "X" é pronunciada como se fosse duas letras (TÁKSI), tendo dois fonemas (sons). Portanto, trata-se de um dífono (uma letra com dois sons). 

Sendo assim, TÁXI tem 4 letras e 5 fonemas (pois a letra "X" tem dois sons).

Outros exemplos:

TÓXICO 
6 letras e 7 fonemas (/TÓKSIKO/)

TÓRAX 
5 letras e 6 fonemas (/TÓRAKS/)

Vimos muitas coisas hoje, não é verdade? Vamos, então, fazer uma pausa e revisar os principais pontos que estudamos:


R E V I S Ã O


=> Fonema se refere ao som presentado pelas letras; trata-se da menor unidade sonora da palavra.
=>Letra é a representação gráfica do fonema.
=> É possível haver letra sem som (como "H", de "HOJE").
=> É possível haver duas letras com som de uma (como "QU", de QUERO). Trata-se de dígrafo
=> No dígrafo vocálico, vogais seguidas de "M" ou "N" são nasalizadas (como "AM", de TAMPA). 
=> É possível haver uma letra com som de duas (como "X" de TÁXI). Trata-se de dífono.

 QUESTÕES COMENTADAS 

Antes de avançar o conteúdo, recomendamos que você faça as questões comentadas desta aula, clicando aqui


 CONTINUE ESTUDANDO: 

O próximo assunto que nós vamos estudar será a semivogal, um assunto muito importante para entendermos o que são os ditongos. Siga, agora, para a próxima aula.

                    ROTEIRO "FONOLOGIA"                     

Próxima aula:
AULA 1.2



23 comentários:

  1. Nossa! Um dos melhores blogs de língua Portuguesa que já vi. Mais sucesso!

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  2. Legal ....muito bom mesmo fácil entendimento.

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  3. Obrigado!!! Simples e Objetivo, parabéns pelo seu blog!!!

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  4. Manos vcs são feras!... Gostei de mais.

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  5. MUITO BOM. MUITO DIDÁTICO E FÁCIL DE ENTENDER. PARABÉNS. SE E QUANDO POSSÍVEL, COLOQUE MAIS EXEMPLOS.

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  6. Gratidão por disponibilizar este material que DEUS PAI os abençoe.

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  7. Parabéns ao blog! Nenhum livro tem essa didática!

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  8. Me encontrei aqui. Parabéns ao blog!

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  9. Que Blog maravilhoso, parabéns pelo trabalho incrível.

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  10. PQ A PALAVRAS CANTAMOS NAO CONTEM 6 FONEMAS SE AN E AM SÃO DIGRAFOS ?

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    1. Para ser dígrafo, "AM" deve ser pronunciado como apenas um único som. Ou seja: AM = Ã.

      Logo, na palavra "cantamos", o "AM" não é dígrafo, pois o "M" não está apenas nasalizando o "A", mas sim é pronunciado junto com a vogal "O". A gente pronuncia o "M" com a vogal "O". Não falamos CÃTÃOS, mas sim CÃTÃMOS (7 fonemas).

      O "AM" será dígrafo, por exemplo, em TAMBÉM, pois aí sim o "M" só estará nasalizando a letra "A", formando dígrafo (ou seja: AM = Ã), da mesma forma que ocorre em AMbulância, tAMpar, jAMbo e assim por diante.

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  11. Olá! As combinações AM, AN, EM, EN, IM, IN, OM, ON, UM, UN
    sempre farão dígrafo vocálico? E na palavra "crescem"?

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    1. Boa pergunta! Atualizei a postagem incluindo a explicação para a sua dúvida. Em "crescem", nós pronunciamos a última sílaba com som de "i", que é semivogal (representada pela letra "Y"). Ou seja: no final, a gente fala "CẼY".

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  12. Seria bom INCLUIR também quando ocorrem exceções ou observações sobre as regras, já que as vogais seguidas de M ou N NÃO serão dígrafos vocálicos ( ou nasais como queira ) SE após vier uma vogal. Pra ser dígrafo vocálico após estes grupos AM - AN - EN - EM.... terá de vir uma CONSOANTE, aí sim configura-se um Dígrafo nasal ou vocálico.

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    1. Muito pertinente a sua observação. Postagem atualizada. Obrigado pela sua contribuição.

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